Kreen-Akrore – A tribo brasileira que se escondeu dos homens e inspirou Paul McCartney

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A última faixa do primeiro álbum solo de Paul é meio obscura e meio esquecida até pelos fãs de McCartney, mas tem a haver com o Brasil. É em sua maioria instrumental e foi inspirada em um documentário produzido pela ATV e exibido pela ITV do Reino Unido em 11/02/1970, chamado ‘The Tribe That Hides From Man’.

O documentário versa sobre a vida dos índios Kreen-Akrore  na selva brasileira, e como o homem branco, naquela época, estava forçando mudar suas tradições e seu modo de vida. No dia seguinte, depois do almoço, Paul trabalhou na percussão e mais tarde, guitarra, piano e órgão seriam adicionados à primeira seção.

Paul tocou nessa faixa os seguintes instrumentos: contra-baixo, piano, órgão, bateria, guitarra elétrica e ainda produziu os efeitos sonoros dos ruídos de animais e de arco e flecha, sendo que em determinado instante, o arco vergou e quebrou.

Apesar da faixa caseira, a mesma foi mixada e finalizada no Morgan Studios e em Abbey Road, em Londres. O álbum foi lançado em 17 de abril de 1970 no Reino Unido e três dias depois nos EUA.

Paul revelou um detalhe exótico em seu press release: teria acendido uma fogueira dentro do estúdio para criar um clima tribal.

Paul McCartney, muito mais tarde, comporia outra canção sobre um brasileiro (Chico Mendes).

O SOFRIMENTO DOS KREEN-AKRORE

Eles se chamam Panará em sua língua nativa, mas eram conhecidos também como Kreen-Akarore, Krenhakore, Krain – a – kore, Krenakore ou Índios Gigantes. Os homens brancos perseguiram, escravizaram e/ou massacraram estes índios em séculos anteriores, provavelmente isto resultou em desconfiança total dos remanescentes em relação a estranhos.

Mantiveram-se escondidos até o ano de 1973, quando iniciou a construção da estrada Santarém-Cuiabá passando pelo seu território no Estado do Mato Grosso às margens do rio Peixoto Azevedo. Com o contato inevitável com os homens, dois terços deles morreram vítima de doenças simples como a gripe, pois sequer tinham anticorpos e remédios para combatê-la e obviamente ninguém se preocupou em fornecer-lhes tratamento médico digno.

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De 1973 a 1975, foram tantas as mortes em razão de gripe e diarréia que o grupo quase desapareceu: “Nós estávamos na aldeia – lembra-se o chefe Akè Panará – e começou a morrer todo mundo. Os outros foram embora pelo mato, e aí morreram mais. Nós estávamos doentes e fracos e, então, não conseguimos enterrar os mortos. Ficaram apodrecendo no chão. Os urubus comeram tudo“.

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No dia 1° de novembro de 1996, o ministro da Justiça declarou de “posse permanente” dos índios a Terra Indígena Panará, com 494.017 hectares, nos municípios de Guarantã (MT) e Altamira (PA). O mesmo ato encarregou a Funai de providenciar a demarcação física do território, fixando marcos no local. O governo reconheceu, politicamente, os direitos dos Panará e os limites de suas terras. O Presidente da República assinou um decreto homologando a demarcação da Terra Indígena Panará, que foi registrada nos cartórios de imóveis de Guarantã e Altamira, e registrada no Serviço do Patrimônio da União, em Brasília.

Em agosto de 2003, os Panará foram protagonistas de um fato inédito na história do país: pela primeira vez, o Poder Judiciário do Brasil reconheceu a um povo indígena o direito de indenização por danos morais decorrentes das ações do Estado. A indenização recebida pelos Panará foi o desfecho de um longo processo jurídico, iniciado em 1994. Naquele ano, os índios entraram com uma Ação Ordinária de Reparação de Danos Materiais e Morais na 7ª Vara da Justiça Federal, no Distrito Federal, contra a União Federal e a Funai, pedindo reparação de danos e indenização “a ser apurada em liquidação de sentença”. Esta ação foi viabilizada com o apoio de antropólogos e advogados do Cedi e do NDI, que hoje formam o ISA. A indenização, que soma mais de 1,2 milhões de reais, diz respeito aos danos sofridos pelos Panará em razão do contato e da transferência forçada de suas terras tradicionais por causa da construção da BR-163 Cuiabá-Santarém.

No censo de 2010, contabilizavam 437 habitantes.

A canção instrumental de Paul:

O documentário britânico completo denominado ‘The Tribe That Hides From Man’  (áudio em inglês):

Fontes:

Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil – Instituto Socioambiental: http://pib.socioambiental.org

Site do fotógrafo profissional Pedro Martinelli: http://www.pedromartinelli.com.br

Paul McCartney – Todos os segredos da carreira solo – Claudio Dirani – Lira Editora Ltda

Por BeatleLado
@BeatleLado2

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